"Maria Lucinda, 12/07/2011
Hoje, amanheceu um dia chuvoso e frio. Não era meu dia de atuação oficial, mas queria muito atuar, então fui junto. Acordei às 7h. Se fosse para ir pra aula, não levantava. Tava cansada da viagem de ontem. Mas, recentemente, descobri uma coisa que me faz levantar da cama a qualquer hora: atuar.
Hoje, amanheceu um dia chuvoso e frio. Não era meu dia de atuação oficial, mas queria muito atuar, então fui junto. Acordei às 7h. Se fosse para ir pra aula, não levantava. Tava cansada da viagem de ontem. Mas, recentemente, descobri uma coisa que me faz levantar da cama a qualquer hora: atuar.
Cheguei ao Maria Lucinda às 8h. Os meninos se atrasaram um pouco por causa da chuva. Chegaram perto das 9. Trocamos de roupa, nos maquiamos e começamos a aquecer. Na nossa dinâmica do dia, só podia falar que tivesse com a bata. Começamos a aquecer todos em silêncio. Não precisei de música pra subir a energia. Quando a música começou, só faltava colocar o nariz para ser Chiquita completamente.
Saímos pela enfermaria que não tinha ninguém. Quando chegamos ao hall, muitas pessoas estavam esperando. Jogamos com algumas delas, um menino que tava com o braço quebrado, um senhor que foi chamado para pegar exames, outro que chegou pra jogar pra gente. Esse último disse as palavras mágicas para passarmos pelo portal. “Não sei”.
Quando estávamos pelo corredor, passamos pela brinquedoteca. A porta estava aberta. Quando olhamos para dentro, encontramos uma menina. Nos olhamos na mesma hora. Foi muito bonito. O rosto dela e iluminou e ela abriu um sorriso. Entramos e começamos a jogar com ela. Seu nome era Gabriela. De repente, ela estava em frente a um espelho com o colar de Chiquita, o chapéu de Zé do Cabide o os óculos de Zé da Palhoça. Ela ficou um bom tempo se olhando no espelho, sorrindo. E aí, ela foi procurar uma coisa que faltava. De dentro de uma caixa, pegou um nariz vermelho. Agora, ela estava igual a nós.
Fomos depois para o corredor da enfermaria cirúrgica. Entramos em um quarto que tinha uma menina, já adolescente e os pais dela. Na mesma hora, Gabriela chegou. Ela estava naquele quarto também. Ela se juntou a nós. Começamos a fazer jogos com a menina que estava na cama. Ela estava escutando música no celular. Peguei o celular e botei no ouvido. Começamos todos a dançar. Gabriela também. E aí, a dança se transformou em um jogo de tocar um no outro e ir trocando. Foi muito emocionante quando Gabriela entendeu o jogo. Ela era apenas uma menina, devia ter uns 5 anos, mas comprava todos os nossos jogos. Foi um dos melhores encontros que já tive.
E aí, vimos pela grade Assunção e Daniel sentados tomando sol. Começamos a jogar com eles. Fizemos várias dinâmicas. De cochichar segredos um no ouvido do outro, de colocar música para dançar. Os dois se divertiram muito.
Depois, chegamos até outra ala que nunca tinha ido. Era uma enfermaria neo-natal. Quando entramos, tinha três mães com três meninas. As meninas estavam dormindo e ficamos jogando com as mães. Cantando músicas, dançando. E uma das mães falou: “só eles mesmo para nos fazer sorrir, não é?”. Foi muito gratificante ouvir isso. Não pelo fato do fazer sorrir. Mas sim por termos conseguido conquistá-las e sentir que elas estavam no jogo, estavam conosco e ficariam conosco sempre, da mesma forma que ficaremos com elas.
E aí, apareceu um menino que estava com um curativo na cabeça. E começamos a marchar atrás dele. Mostrei o curativo dele e o chapéu dos meninos. Ele também tinha um chapéu. Ele nos guiou para outra enfermaria, onde encontramos um menino que estava com um livro de historia e começamos a criar uma história. Tinha um menino que só falava “não sei” e ele tinha um cachorro que fazia “au-au”.
Depois, encontramos Dara. Ela devia ter uns 15 anos. Zé do Cabide disse que ela era muito bonita e achou uma foto dela cantando. Pedi para ela cantar uma música. Ela disse que não. Eu insisti e ela fez: “tá, só uma”. Sua canção falava sobre superação. Não me lembro da letra. Mas falava sobre alguém que tinha enfrentado muitos obstáculos, atravessado desertos e quem a via sorrir não imaginava isso. E ela tinha conseguido tudo isso por que Deus estava com ela, abençoando, abrindo as portas, ajudando. Fiquei arrepiada na hora. Uma emoção muito forte. Todos nós nos entreolhamos compartilhando esse sentimento. Achei que a música tinha tudo a ver com o que Dara estava vivendo. E que ela encontrava forças em Deus. Não sou religiosa, mas tenho fé e penso que quando acreditamos em alguma coisa, realmente adquirimos forças para superar as adversidades. Foi muito bonito esse momento e também me marcou bastante. Ainda passamos bastante tempo jogando com Dara e todos dissemos o núcleo do dia: “lindo”, “maravilhoso”, “fantástico”, e Dara disse: estou muito feliz de ter conhecido vocês. O sentimento foi inexplicável.
Na última enfermaria, chegamos na hora da medicação. Jogamos com uma menina, ela tinha, no máximo, um ano. Quando ela encontrou Zé do Cabide, ela começou a sorrir. Todos nós conseguimos conquistá-la. Incrível esse momento. Como conseguimos conquistar até uma criança de 1 ano de idade.
Achei essa atuação mágica. Foram momentos que vão ficar na minha memória sempre. Tocaram-me imensamente. Talvez tenha sido hoje a primeira vez que eu senti a grandeza do que fazemos. Que eu me reconheci da forma mais intensa como Chiquita Palito.
Fico por aqui, com uma alegria e uma satisfação enorme no coração."
Maria Olívia
Maria Olívia