O PEQUENO PRÍNCIPE
versão PALHAÇOTERAPIA-UPE
Cap. XV.1
Poucos sabem que entre o sexto e o sétimo planeta o princepezinho havia descoberto um outro planeta. Este, não era tão maior que os outros, mas era decididamente o mais povoado. Intrigado pela quantidade de pessoas, resolveu aproximar-se.
- Fique parada, por favor! - Exclamou exasperada uma menina mais próxima a ele, tão branca que parecia reluzir.
- Como queres que fique parada? - Retrucou em desdém uma outra cujo rosto era acometido por um pó rosado - Sou uma deusa, não um daqueles defuntos que maqueias. Tenho coisas a fazer e tu demoras muito.
- Ei macho, não gostarias de ver minha nova invenção? - Perguntou-lhe um sujeito de voz arrastada, uma vez que o princepezinho foi se aproximando.
- De que se trata essa invenção? - Quis saber, em toda a sua curiosidade.
- Uma máquina do tempo! Vê, você a coloca na cabeça, aperta um botão e serás levado ao período que desejar
- E funciona? - A perspectiva de ver tantos milhares de pores-do-sol o deixou entusiasmado. Não precisaria afastar a cadeira para tal fato, apenas apertar um botão. Aproximou-se, para melhor ouvir o inventor de tal maravilha tecnológica.
- Claro que sim! Já visitei vários lugares em várias épocas. Timbaúba, Goiana. Carpina... - Iniciou o inventor uma lista infindável de lugares que desconhecia o príncipe.
- E onde está tal máquina? - Interpelou o jovem
- Estou esperando meu eu do futuro trazê-la neste tempo. Ouça, quando chegar, posso emprestar-lhe por alguns instantes e-
- Não coloque a cabeça nessa máquina nem a pau, tá ouvindo? Nem a pau! A minha quase que não saía mais, tive que usar um macaco para conseguir - Disse em um tom veemente uma jovem que trajava roupas brilhantes. O príncipezinho ficou a imaginar um macaco puxando a máquina de sua cabeça e riu sem contensões, era uma ideia engraçada, aquela.
- Dejale en paz, muchachos! Estás con sede, joven? Tiengo un tiquito de agua para darle, caso quieras - Era um bigodudo que falava muito rápido e em um idioma complicado, não entendeu muito bem o que lhe disse, mas aceitou a garrafa prontamente, o tanto que havia falado o deixara com a garganta seca. Antes, porém, que pudesse levar o objeto aos lábios, ouviu um "psst" que lhe chamou a atenção. Uma jovem de olhar enigmático e aparência etérea se aproximou.
- Não bebas isto! - Disse-lhe com veemencia - Além de não matares tua sede, arrotarás bolhas pelo resto do dia.
Assentindo brevemente, o principezinho largou a garrafa em um canto.
- Segura ele! - Gritou alguém à sua esquerda. Demorou um tanto para entender que não se tratava de si, mas de um cachorro louco que corria pelo lugar.
- Não há o que temer! Eu o resgatarei! - Veio uma voz confiante de uma direção desconhecida. O jovem deparou-se com um sujeito estranho de roupa azul e vermelha, que iniciou uma corrida atrás do animal. Assistiu entusiasmado à perseguição e riu largamente quando o indivíduo azulado tropeçou em sua capa e deu de cara no chão, provocando um corte em sua bochecha. Do outro lado do pátio, um sujeito em laranja derrubou os pesos que segurava e riu escandalosamente. Era melhor se afastar, aquela cena estava muito selvagem.
- Há carneiros por aqui? - Inquiriu o principe a uma moça que por ele passou.
- Não, só cachorros, pássaros e porcos - Respondeu-lhe com uma voz fina e tímida indicando o menino que gritava pelo cachorro louco e um outro de bochechas rosadas, que tentava colocar alguns porcos em uma espécie de caixa grande sobre rodas.
- OLHA O BRIGADEIRO DA JOANA!! Queres um pouco, querido? - Ofereceu-lhe uma jovem de avental com bolinhas e barriga saliente. No encalço desta, veio uma outra, que entregou-lhe um cartão. Nele, estava escrito “Dentista de banguelos e imitadora de elefantes nas horas vagas”
- As pessoas sempre me procuram após comer brigadeiros loucamente - Disse-lhe com um sorriso confiante.
- E a mim então! - Interpelou indignada uma terceira. - Jazz emagrece, minhas aulas são muito requisitadas!
- Quero ver você aguentar essa criançada toda em um shopping lotado, aí sim! - Exclamou sorridente uma menina de voz doce - Vem, vamos brincar! - Chamava por uma menina saltitante de cachinhos dourados, que prontamente a seguiu. Não parecia ter mais que seis anos de idade.
O principezinho fervilhava em perguntas, como ‘o que é um shopping?’ ou ‘por que você ensina esse Jazz?’ mas antes mesmo de verbalizá-las, foi abraçado subitamente.
- Bom dia, coleguinha! - Cumprimentou-lhe uma jovem de cabelos cacheados
- Oi lindinho! - Repetiu o gesto uma outra em uma voz bem grossa
Os encontros deixaram-no confuso. Prosseguiu caminhando por entre aqueles sujeitos estranhos a fim de encontrar alguém para responder suas perguntas, até que encontrou um rapaz solitário.
- O que fazes? - Quis saber o príncipe.
- Sou um guerrilheiro - Respondeu-lhe.
- E o que faz um guerrilheiro? - Perguntou novamente.
- Luta - Foi a resposta concisa que recebeu. Não satisfeito, o jovem de cabelos cor de trigo persistiu:
- Contra quem?
- Si mesmo
- Para que?
- Para se tornar mais de si mesmo.
Assentiu com a cabeça, compreendento o que lhe havia dito. Mais adiante, o jovem encontrou com outras pessoas. Outros encontros singulares. Aprendeu que ser Micro não significa algo ruim, mas a probabilidade de poder crescer cada vez mais, e que poucos compreendem como o tecnopagode pode ser uma melodia apreciavel.
O pequeno príncipe se enquadrou na maioria que não compreendia.
- Queria rever minha rosa - Exclamou para si, chutando um pedregulho.
- Poderia te arrumar uma passagem de avião, mas terás que esperar que eu seja promovida, pois sou apenas uma estagiária e não ganhamos descontos tão bons assim. - Disse-lhe uma jovem muito alta.
- Seria magnífico! Mas o que é um avião? - Perguntou.
- É como um pássaro de metal. As pessoas entram nele, sentam em cadeiras confortáveis e viajam pelo mundo - Retrucou pacientemente.
- Ah, então prefiro viajar de outro modo - Afastou-se rapidamente, remoendo em sua cabeça como pessoas conseguiam viajar dentro de um pássaro ou como o pássaro não os digeria de vez. Talvez não fossem pássaros carnívoros. Enquanto pensava em ir embora, encontrou com um grupo distinto. As pessoas eram, de alguma forma, diferentes das que havia encontrado até agora. À frente do grupo, estava um homem de pele escura e cabelos esvoaçantes.
- Quem são eles? - Quis saber o pequeno príncipe.
- São monitores - Respondeu-lhe o homem.
- E o que fazem? - Perguntou.
- Monitoram - Veio a resposta curta. O homem apontou para alguém do grupo e indicou o sujeito selvagem em azul branco. Prontamente essa pessoa foi em sua direção e impediu que o rapaz caísse de um barranco, já que estava de olhos fechados e não conseguiu ver o perigo.
- Quem és? - Novamente perguntou o principezinho.
- Sou o monsieur.
- O que faz um monsieur?
- Espera
- Pelo quê?
- Pelo momento deles. Ainda estão desfrutando do caminho.
- Que caminho? - Insistia nas perguntas, sentindo que compreendia cada vez menos. Estranhos, aqueles dali.
- O caminho da verdade - Respondeu monsieur.
- E quando chegarão ao fim?
Com um sorriso gentil, monsieur se retirou, chamando a atenção do grupo com palavras de ordem do tipo “Maia disse todos são monstros!” O que mais espantou o príncipe foi que todos deixaram seus afazeres e se transformaram nos monstros mais variados e esquisitos.
‘Conheço um rei que gostaria de ter tantos súditos assim para o obedecer’ pensou o príncipe com seus botões
- QUANDO CHEGARÃO AO FIM? - Repetiu a pergunta em um tom mais alto. Nunca desistia de uma pergunta uma vez lançada.
Monsieur tornou a sorrir e permaneceu calado. Então, o principezinho compreendeu, havia recebido sua resposta. Acenou e se retirou daquele planeta estranho.
‘Não existe fim’ concluiu em pensamentos. ‘Pessoas grantes finalmente fizeram algum sentido’.
Fim do capítulo XV.1
“Valeu a pena, pela cor do trigo”
Branquilda da Flor Primeira
"A maquiadora de defuntos."
(Thaís Nóbrega)