“A minha arte, desde o começo, é feita de amor e solidariedade...”
Era só mais uma tarde como várias outras. Já tinha cumprido o protocolo: encerradas
as aulas da manhã, fui para casa, almocei e após descansar uns minutinhos, corri
para o plantão de Embriologia. Tal foi a minha surpresa, ao chegar lá, saber que dessa
vez alguém havia escondido as lâminas. Que pena, a prova seria em uma semana...
Tem nada não! Conformada, decidi voltar para casa, pois fomos dispensados da aula
da tarde. Foi então que, sem motivo algum, decidi entrar no CEON.
Poucos minutos depois, ouve-se um burburinho. Alguma coisa estava acontecendo...
Olho para os lados e, para minha surpresa, encontro dois rostos que me pareciam
familiares. Invasão Clown!! Como um gato, gatos duplos
(https://www.youtube.com/watch?v=588X_pF1d9I), meus companheiros já se
aproximaram perguntando se eu não tinha algum tostão para emprestar. Lisos que
somos, fomos a procura do prestigiado dono do 1º lugar da Forbes... E não é que ele
estava lá, sentadinho na recepção? E ainda por cima carregava o mapa da mina do
tesouro!! Costelas eram pontes e o coração, a própria montanha de ouro. Era rico
mesmo, só perdia para o Sr. Bob Bolha, que carrega dinheiro escondido no chapéu.
Ainda nesta etapa, perguntamos aos outros o que eles estavam fazendo ali. Em
uníssono, respondiam: “Esperando o médico”. Replicamos: “Ué, está todo mundo aqui
esperando o médico?” Entre “sins” e “uhuns”, perguntamos mais uma vez: “Então esse
cara é importante mesmo, hein? Ele gosta de cuidar?” Comecei a pensar comigo
mesma: Como o paciente enxerga o médico? O que fazer para mudar? O diálogo,
embora rápido, foi interessante, pois nos permitiu acesso à opinião do doente sobre o
ofício do profissional de saúde. Recebi faíscas daquilo que pode ser feito para
melhorar a relação médico-paciente e, por consequência, a qualidade do atendimento.
Instantes depois, para nossa surpresa, uma mulher aproximou-se e pediu que
transmitíssemos palavras de conforto a um paciente cadeirante. Este foi um momento
forte para mim, tanto pelo estágio de morbidez em que o homem se encontrava
(síndrome da anorexia-caquexia em portadores de câncer) quanto pela maneira
singela que meus companheiros encontraram de lhe dizer para ter firmeza e dar
continuidade ao tratamento, pois se ele fizer isto, não tem como dar errado!
Depois da euforia na recepção, nos dirigimos à sala de SPA. Parecia muito boa! Tinha
até Poltrona Massageadora Luxury da Polishop! O serviço era arretado mesmo:
suquinho, cachorro quente e até uma música que apitava! Só artista frequentava
aquele lugar (deveria ser caro pra entrar ali), recebemos até autógrafo!! Cada um de
um planeta diferente: tinha o sanfoneiro de Marte, a mulher do Planeta-Leite (Itambé),
os conterrâneos de Carpinalândia...Educados que somos, nos apresentamos em
sequência: Serena Estelita, Sr. Bob Bolha (vulgo lutador de MMA) e eu, Carpinéia
Rapunzel (auto-explicado). O sanfoneiro, que também era cantor, gostava de filosofia:
“Existem coisas boas, existem coisas muito boas, e existem coisas muito mais do que
muito boas”. Sem entender, perguntamos: o que é uma coisa muito mais do que muito
boa? E a resposta foi uma sutil abocanhada no cachorro quente. Uma acompanhante
pediu pra gente se juntar que ela ia nos colocar no face... Ficamos de orelha em pé: e
depois, como é que ela ia fazer pra tirar nós 3 de lá? E se ficássemos presos no tal
Várias peripécias depois, era hora de nos despedirmos. Mas, para não sair à francesa,
nada mais justo que uma LINDA MELODIA cantada por Serena: “Estou indo embora, a
mala já esta lá fora...” Sem dúvida alguma, sai uma pessoa diferente daquele hospital!
Em todos os aspectos! Foi muito mais do que muito bom!
Um dos ensinamentos que levo desta experiência é que mudar, mesmo que seja
pouco, faz bem. Coisas tão simples, aparentemente desprovidas de significado,
podem trazer desfechos impressionantes! Quem diria que entrar no CEON e dar uma
pausa, ao invés de voltar correndo para casa, me proporcionaria tudo isto? Parece
óbvio, mas escolher a mesma trilha todas as vezes não tira ninguém do lugar... Isso
vale para tudo na vida!
Visitar o CEON foi primordial para que o encontro acontecesse. Entretanto, não teria
sido suficiente se eu não tivesse tomado a decisão de participar. E o que faz uma
estudante do terceiro período, que nunca atuou na vida, fazê-lo repentinamente? O
pouco de geografia que me resta me diz que não tem como roseiras sobreviverem no
semiárido... É preciso o ambiente correto! E isto Serena Estelita e o Sr. Bob Bolha se
encarregaram de fazer direitinho! Desde o início e durante toda a atuação abriram
espaço e forneceram os ganchos para que eu pudesse atuar. É... meus companheiros
são os melhores do mundo!
Em nossa formação, não são poucas as vezes em que somos advertidos que a
Medicina requer respostas imediatas, afinal, o tempo pode custar a vida de um
paciente. E como a terapia do Palhaço também é Medicina, entendi, finalmente, que
para alcançar isto é preciso CORAGEM. Coragem para ter pensamento rápido,
coragem para oferecer o melhor de nós (mesmo que alguns nos olhem estranho) e
coragem para entrar na dança mesmo sem saber dançar... AGIR! Nada é mais
importante que agora, aqui, HOJE.
“Quando a dor de não estar vivendo for maior que a dor da mudança, a pessoa muda”.
Quem participa do meu cotidiano não tem dificuldades de perceber o quanto procuro
ser uma pessoa reservada e comportada (sem hipocrisia, certo?). Como todas as
nossas escolhas, há ganhos, mas também há perdas significativas. Por muito tempo,
abri mão de ser mais, de ser leve, de ser inteira... Participar da Palhaço foi descobrir
um pouco mais de mim!
“Não há, no mundo, exagero mais belo que a gratidão”.
Poucas coisas provocam tanta satisfação quanto o sentimento de dever cumprido. Em
muitas ocasiões, os pacientes demonstraram – através de palavras ou do sorriso
sincero – gratidão pelo papel da Palhaçoterapia ali. Entretanto, para mim, a evidência
de que estava dando certo foi a TROCA: entrarem na brincadeira e participarem
Não tenho dúvida de que os médicos-palhaços estarão um (senão vários) passo(s) a
frente de seus colegas de profissão. Desde cedo há o exercício de alguns requisitos
para o bom atendimento médico, como a escuta, o contato visual, o uso de linguagem
acessível, ouvir sem interromper... tudo isso deixa bem claro que não devemos
NUNCA tratar nossos futuros pacientes como se estivéssemos numa relação de
Você alguma vez se perguntou por que
Faz sempre aquelas mesmas coisas sem gostar?
Mas você faz, sem saber por que, você faz!
Ao ser aprovado no vestibular, o calouro está convencido de que a partir de agora só
estudará conteúdos que aprecia. Logo de início, porém, é confrontado com 3 longos
períodos de pura Biologia. Longe de querer desmerecer o Ciclo Básico, muitos
estudantes acabam desestimulados e sem encontrar o seu lugar na universidade. O
projeto vem para mostrar que a nossa experiência como acadêmicos não precisa se
resumir a assistir aulas e cumprir protocolos, basta sairmos de nossas caixinhas!
Como é bom fazer o que a gente gosta, com pessoas que a gente ama!
https://www.youtube.com/watch?v=1fbQhGvRVnY
Por Talita Vieira
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