Entrelaçados

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Diário de Bordo

Por Doron Reginatto em 01/06/14

 Pra começar a falar desse último dia, tenho que voltar alguns encontros no tempo, para a minha primeira participação nessa oficina. No dia das Mães, apesar de todos contratempos, consegui chegar, atrasado, numa oficina vazia, tanto de novos como de monitores, mas cheia de energia, vontade e bolinhas em várias caixas que ficam quatro dedos abaixo do umbigo.
Durante os dias que se seguiram, descobri-me um viciado! A vontade, o desejo aumentavam a cada minuto que passava em direção a mais um final de semana de oficina... Imbróglios acadêmicos, porém, me impediram de saciar a minha necessidade.
Por motivos maiores, tivemos que organizar a oficina em um lugar diferente, durante a semana, numa terça e numa quarta. Aquele fogo reacendeu mais intenso, não precisaria, então, esperar tanto para voltar a gerar infinitos! O destino, este infame crupiê, contudo, jogou as suas cartas e mais uma vez tive que me resignar aos sintomas da abstinência...
Na quinta-feira, a minha sorte começou a mudar. Encontrei-me, por acaso, com a Aline Nascimento e ela disse que lembrou-se muito de mim durante a oficina e perguntou o por quê da minha ausência, após explicar-me foi a minha vez de perguntar o motivo da lembrança... Ela disse que foi o dia que os novos receberam os narizes e que ela havia se lembrado do dia que, na sua oficina, eu havia feito o apadrinhamento dela... Como fiquei surpreso!!! Não sabia que ela havia guardado aquela lembrança com tamanho significado! Fiquei muito feliz! Ganhei o meu dia! Saciei boa parte da minha vontade! Tive ainda mais vontade de aparecer!!! Para a minha surpresa, logo em seguida fui abordado pela Camila Sanchez, uma das novas. Temos uma amizade de longa data e conversamos muito sobre o projeto. Ela veio me cobrar, mais uma vez, uma participação maior na oficina, pois, além de atuar, eu devia participar da formação dos novos, que era a última chance de participar da oficina, que ela havia recebido o seu nariz de alguém que ela não tinha proximidade, que eu devia ver como o grupo estava, qua ainda tinha as roupas, tinha também a maquiagem... Enfim, ela, mesmo sem saber, só fez atiçar ainda mais o meu desejo de rever e compartilhar da energia daquele grupo!
Finalmente o sábado chegou! Após toda uma aventura pra chegar na longínqua Camaragibe, o último dia começava! O Genti dividiu os grupos dos monitores para fotografar, subir a energia, maquiar. Junto com outros companheiros fiquei encarregado da maquiagem. O crupiê mais uma vez lançou os dados e o seu jogo veio em meu favor e pude fazer a maquiagem da Camila, com quem eu já havia estudado no cursinho, havia sido monitor, parceiro nos vestibulares perdidos e no conquistado, veterano de faculdade, monitor da Palhaço... Aquilo pra mim foi sensacional! Subiu muito a minha energia! Ainda pude ajudar o Guto, a T2 e o Rena. Cada um com seu jeito peculiar e especial, cada um com sua caracterísca marcante, cada um, agora, com o seu "rosto" único!
Nos preparamos também: vestimos as nossas máscaras, e deixamos os narizes a postos!
Com a leitura dos diários, todos tiveram a oportunidade de deixar as suas impressões - eu, por exemplo, falei sobre a minha primeira oficina, a minha primeira intervenção, a minha primeira atuação, o meu primeiro trio... Enfim um resuminho da minha clownvida - , ver as carinhas novas de todos, além de criar uma baita expectativa sobre tudo que ainda estava por vir!
Não parece, mas muito ainda estava para acontecer...
Para entrarmos no grande baile e para isso precisávamos colocar nossos nomes na lista... Que tensão! Até os antigos sofreram pra entrar no palácio da Rainha!!! Entre mortos e feridos, salvaram-se todos!!!
No batismo, o padre messiê chamou os seus coroinhas para auxiliá-lo em tão honrosa tarefa! Asterisco, Dracolino, Zé do Baile, Don, Zé da Palhoça, Talusina e Rochelle tomaram os seus lugares! Mesmo diante de tamanha aleatoriedade, pude batizar as pessoas com quem tinha maior proximidade! Estava transbordante de alegria!!!
Tivemos a chance de nos encontrarmos com todos durante as caminhadas, mas aqueles encontros mais demorados foram, para mim, uma sequência impressionante! Não só pela força e pela intensidade deles, mas pela importância de cada um. Pude encontrar o Thiago, que é o meu atual companheiro de atuações; pude encontrar a Aline Nascimento, a maga que havia se lembrado de mim, cuja ausência de peso é compensada pela alegria no olhar; pude encontrar o Genti, a quem devo muito de tudo isso, pra dizer o mínimo; pude encontrar o Kim, com quem fiz a minha primeira intervenção externa e com quem tive a honra e o prazer de "dormir o medo meu"...
Não!!!
Dormir agora não!!!
Braços dados!
Todos juntos!
Grande roda!
Olhar! Lágrimas! Energia! Suor!
O outro! O eu! O nós!
O todo! O tudo!
Cantamos em coro, em uníssono, bailamos no ar, agradecemos a cada um no olhar...
A roda se quebrou... Não para se perder, mas para se unir! Fazer uma espiral infinita de olhares, energias e belezas mil!!!
Não conseguiamos parar! Pular! Dançar! Chorar! Rir!
Precisamos de mais! Eu queria mais! Não me contive e puxei: "Quem conhece a gaita já sabe quem tá chegando!!!"
Cantamos e pulamos ainda mais!
Foi acabando...
Mas a energia tava muito alta! Com o pouco de voz que me restava, consegui gritar: "Posso pressentir o perigo e o caos..."
Cantamos com toda a força, nos abraçamos mais forte, pulamos mais alto, brilhamos ainda mais o olhar!
Nos acalmamos...
Sentimos o momento de guardar tudo no nariz e na memória...
Nos sentamos para o núcleo do dia...
O mais marcante pra mim foi o do Bruno... Um relato lindo e emocionante de algo que aconteceu com ele e pra mim bem significativo, pois foi USF do Clube do Delegados, em Dois Unidos, local onde iniciei a minha formação acadêmica!!! E, como se ainda precisasse de exemplos, vimos a importância do olhar e como a Palhaço transborda para as nossas vidas além do projeto. Foi muito bom ver a contribuição de cada um, cada tijolinho colocado na fase de acabamento da oficina! Foi um crescimento tão impressionante que só poderia ser medido em "múltiplos de 120"...
Fizemos o tradicional encerramento com o mantra maia, o movimento em espiral, os corpos "com molho, que é mais gostoso", como diria o Romerinho, e ALLE HUP!
E, como não poderia deixar de ser com esse grupo, palmas...
Queria agradecer ao Genti, aos dinos, aos velhos, aos novos e aos novíssimos, pelos olhares, pelos infinitos, pela energia, pela vontade e pelas tantas bolinhas em várias caixas que ficam quatro dedos abaixo do umbigo. E também pela incrível bola vermelha, viva, brilhante e pulsante que cada um carregava no rosto!
No fim das contas, o saldo disso tudo é extremamente positivo. Creio que esse grande crupiê, que muitos acreditam ser um mero jogador de dados, que torna tudo aleatório e imprevisível, me venceu algumas vezes, várias vezes, pra ser sincero, mas tenho conseguido importantes vitórias ou, na pior(?) das hipóteses, venho perdendo para o bem do jogo, perco fazendo o meu melhor!
Em última instância, sou um perdedor feliz!

Muito feliz!

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