Por Roberta Verçoza
Eu sempre gostei de circo.
Eu sempre gostei de circo.
Sou filha de pais separados e vivo nessa situação desde os 7 anos. Meu pai passava os fins de semana conosco (eu e meus 3 irmãos) e nosso programa, sempre que era possível, era circo. Então, como eu amava passar aquele tempinho com meu pai, eu amava o circo. E adivinhem qual era meu personagem preferido do circo? Não... Não era o palhaço. Era a bailarina. Looooooogico que eu não queria ser o palhaço. Aquele cara estranho, desengonçado, com aquele cabelo colorido e despenteado, aquele pé desproporcional, roupas largas demais... Ele sempre fazia tudo errado. Cada tentativa de agradar ou fazer uma gracinha resultava em uma queda, tropeço, escorregão. O palhaço pra mim era aquele cara que tinha nascido do avesso, que nem combinava com aquela elegância toda que você espera do circo. Ai eu via a bailarina... Ai sim! Ela era sempre a mais linda, a mais delicada, tinha cada movimento calculado e realizado graciosamente. A bailarina nunca iria errar um passo e cair na frente de todos, porque ela era perfeita... Então eu, com meus 7 aninhos, conclui que era muito mais legal ser a bailarina, não é verdade?
Ai agora estou eu aqui, nessa oficina, suando horrores, metendo a cabeça nas paredes, dançando loucamente de olho fechado, fingindo ser um monstro ou uma árvore de bambu somente por uma razão: ser aquele palhaço que eu achava tão ridículo. E ai me vem na cabeça como devia ser chato ser a bailarina. Como eu falei, ela tem todos os movimento cuidadosamente calculados, o erro é condenado, a perfeição é buscada a todo momento, não há espaço para o imprevisto e o improviso. Geeeeeente, já fiquei entediada só de falar. Como deve ser chato não poder errar nessa vida. Daí a vantagem de ser palhaço. A vida dele é feita dos movimentos inesperados, do erro, das imperfeições, dos imprevistos e do improviso. Diferentemente da bailarina, que esconde atrás de uma maquiagem impecável todos os defeitos, o palhaço usa essa mesma maquiagem para ressaltar esses pequenos detalhes que o fazem mais humano.
Mas se permitir ser palhaço não é fácil. A gente tende a querer ser o tempo inteiro bailarina, e isso é difícil, cansativo... Então só nos resta suar mais, dançar mais loucamente ainda de olho fechado, meter mais a cabeça na parede, nos tornar mais monstros, mais árvores de bambu. Porque, no final, a recompensa é maravilhosa... Viver e ser palhaço.
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