Entrelaçados

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Cofre de vidas

Por Pablo Cavalcanti em 30/08/15


Atuações de férias, primeiro andar do PROCAPE, encontramos um homem sentado, sereno, na sala de espera:
- O que é aquilo? - perguntamos.
- Um cofre - ele disse com propriedade.
- Um cofre???
- Sim, chama-se UTI.
- E o que ela guarda? Alguns coisa preciosa? - tínhamos certeza que sim, afinal pra que um segurança e uma tranca?
- Sim, guarda as coisas mais preciosas que existem! Esse cofre guarda muitas vidas.
- Nossa! Então ele precisa muita segurança não é mesmo? Tem gente querendo roubar o tesouro desse cofre?
- Verdade, é preciso muito cuidado. Existe uma ladra muito perigosa por aí.
- E quem é ela??
- A morte...
- Morte? - interrogamos o homem que parecia ter uma grande sabedoria.
- É, ela sempre tenta roubar as vidas que estão guardadas aí.
- E o senhor tem medo dela?
- Já tive muito medo. Ela sempre tentou me pegar. Mas já enganei a morte muitas vezes, sabiam? - disse ele, com certo orgulho na voz e um sorriso no rosto.
- Não acreditamos!!
- Sim, já enganei ela varias vezes. Acredito que deve haver um forte motivo pra isso... Com certeza Deus tem uma grande missão pra mim neste mundo...
- Tem razão, moço. O senhor deve ser muito esperto para enganar a morte - dissemos por fim, maravilhados

Nos despedimos, e partimos rumo a uma aventura. Viajamos, brincamos, conhecemos novas pessoas e fomos pra casa. Mas fiquei com aquela conversa na cabeça. Vejam, uns palhaços conversando na porta da UTI com um ser mágico que tem habilidades que ninguém mais tem. Parece uma coisa absurda. Mas foi o que ocorreu. E a missão dele? E a missão de cada um?
Aquele senhor mostrou-se um expert em engabelar a danada da morte. Depois de conversar com ele pensei que enganar a safada era uma coisa simples, fácil até... 
Mas a vida, do mesmo jeito que a morte, gosta de pregar cada peça...
Outro dia, outros palhaços, mesmo local. Pranto, olhares, lágrimas, telefone. "O pai dele..." A realidade parece ter ficado chateada com nossa ilusão. "Vamos dar uma lição nesses palhaços", ela deve ter pensado. 
Reparamos então que nossa máscara já não estava lá, no lugar costumeiro. Estava num cantinho mais íntimo, pulsando. A vontade era ter braços do tamanho do mundo, mas os braços dos companheiros se mostraram melhores que isso.
A morte, do mesmo jeito que a vida, gosta de pregar cada peça...
E já que foi enganada em alguns momentos, era hora de nos enganar dessa vez.

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