Entrelaçados

Entrelaçados

O presente de Seu Antônio Severo

Por Renato Lucena em 27/10/14

Estávamos os três, um de nós, no entanto, não tinha nariz, apesar de ter um gigantesco brilho no olhar. Seguíamos em meio a encontros fantásticos, quando sem esperar, empurramos uma porta e lá estava ele: Um senhorzinho de baixa estatura com o abdome proeminente, tinha a pele negra como uma obsidiana e seu gosto era marcado pela franqueza dos anos que haviam lhe passado. Aos olhares desatentos, aquele senhor poderia ser apenas mais um pacientmau humorado, mas ao se mostrar um pouco disponível a ele, o senhor nos retribuiu com um belo brilho no olhar. Mas e agora? Dissemos a ele 
- Seu Antônio Severo, hoje é o nosso aniversário!  
Depois de um segundo de reflexão ele nos pergunta: 
- Mas dos três? 
- Sim, dos três! Somos trigêmeos! O senhor, por algum acaso, teria algum presente para nós? 
- Infelizmente não tenho, meus filhos. - respondeu ele fazendo movimentos negativos com a cabeça e mostrando as mãos vazias. 
- Mas eu já sei o que o senhor pode nos dar! 
- O que? 
- Um abraço a cada um de nós, mas um abraço bem apertado e bem dado! 
Sem hesitar um segundo sequer, ele prontamente se levanta de sua cadeira e dá um abraço em cada um de nós. Mas sabe aqueles abraços bem dados e muito apertados? Daqueles que você não sente mais nada a sua volta e que seu mundo se resume àquelas braços aconchegantes, daqueles abraços que você divide o fardo que você carrega com a pessoa e ela divide o dela com você também e incrivelmente eles se tornam mais leves. Daqueles abraços que, ao nos separarmos, havíamos necessidade um do outro. E foi assim que nos despedimos de Seu Antônio Severo, preenchidos e com nossas jarras cheias de uma energia maravilhosa, uma energia que eu via brilhar nos olhos dele a ponto de quase transbordar, uma energia que ainda carrego comigo. 
Muito obrigado!

Nenhum comentário:

Postar um comentário